AYRTON
PARA SEMPRE
Ayrton Senna da
Silva nasceu à 1h e 15 min do dia 21 de Março de 1960 na Maternidade de São
Paulo e era o segundo filho do casal Milton da Silva e Neide Senna da Silva.
Foi, inclusive, seu pai quem construiu o primeiro kart, quando ele tinha apenas
4 anos de idade. Começava, aí, uma das mais brilhantes carreiras do
automobilismo mundial. Ayrton tornou-se um ídolo em todo o mundo e, para nós
brasileiros, um herói, um motivo de orgulho sempre que exibia nossa bandeira
após mais uma de suas brilhantes vitórias. Senna ganhou títulos, mas não perdeu
a humildade e nunca deixou de ajudar seus semelhantes. Prova disso são as
instituições de caridade que ele ajudava com doações, exigindo apenas que isso
não fosse divulgado.
Ayrton,
embora muito novo, já reclamava que seu kart era muito lento. Seu pai, após
saber que o pequeno Senna já trocava as marchas do trator na fazenda sem usar a
embreagem, resolveu dar-lhe um kart de verdade aos 7 anos de idade. Sua paixão
pelo carro era tão grande que, depois das aulas, o motorista da família o
levava para treinar numa pista junto ao Parque do Anhembi, perto de sua casa.
Como sua intenção era participar de campeonatos, ele começou a treinar no
kartódromo de Interlagos. Aos 8 anos Senna participava de sua primeira corrida
num balneário em São Paulo. A corrida era contra pilotos de 18 a 20 anos e o
grid de largada seria definido por sorteio. Cada um tiraria de um capacete um
papel com um número correspondente à posição de largada. Por ser o mais jovem,
Ayrton foi o primeiro a retirar o papel, e, adivinhe, ele tirou o número 1. Em
sua primeira corrida ele já largaria na pole position, que seria a marca maior
do arrojo e precisão que sempre o acompanharam.
Ayrton Senna da Silva
Na corrida, Senna
era muito mais leve que os outros e manteve-se, assim, por quase toda a prova
em primeiro. A 3 voltas do final, um kart tocou-o por trás e ele capotou.
Primeira prova, primeira pole e primeira capotagem. Nada mau para um garoto de
apenas 8 anos ! Devido ao limite mínimo de 13 anos da época para pilotar um
kart, Ayrton teve que esperar até 1973 para estrear oficialmente nas
competições. Era dia 1° de julho e Senna obteve sua primeira pole e a primeira
vitória oficiais, muito à frente do 2° colocado. À partir daí ele não parou
mais de colecionar glórias e títulos. Foi por diversas vezes Campeão Paulista,
Brasileiro e Sul Americano e por duas vezes (1979 e 1980) foi Vice Campeão
Mundial de kart. Contra a vontade do pai, Senna largou a Faculdade de
Administração de Empresa da Faap (SP) e foi para a Inglaterra em busca de novos
desafios e mais títulos e, claro, realizar seu sonho de ser piloto de Fórmula
1. Senna assinou contrato com Ralph Firman, dono da fábrica Van Diemen, para a
temporada de 1981 de Fórmula Ford 1600. Na primeira corrida ( 01/03/1981 )
Ayrton da Silva, como era conhecido então, chegou a andar em 4°, mas foi
ultrapassado por seu companheiro de equipe e terminou em 5° lugar no autódromo
de Brands Hatch. A primeira vitória viria em 15 / 3 / 81, sob forte chuva
(outra de suas marcas registradas durante a carreira), também em Brands Hatch.
Foram, no total, 12 vitórias, 5 segundos lugares, 3 poles e 10 melhores voltas
(em 20 provas) e, claro, o título da Fórmula Ford 1600. Em 1982 Senna
participou de dois campeonatos simultaneamente: o inglês e o europeu de Fórmula
Ford 2000. Seu carro era um Van Diemen da equipe Rushen Green Racing. Senna
venceu os dois campeonatos, fulminando seus adversários.
Foram 21
vitórias, 2 segundos lugares e 4 abandonos em 27 provas, somando, também, 15
poles e 24 melhores voltas. Ainda em 82 Senna participou de outras 2 corridas:
em Oulton Park ele venceu o "Celebration Day", com um Sunbeam Talbot
Ti (também fez a melhor volta) e estreou em novembro na Fórmula 3 em Thruxton,
vencendo com um Ralt Toyota RT3. Ayrton totalizou em 1982, 23 vitórias em 29
provas, ou seja, venceu 80% de suas corridas.
A temporada
de 1983, na Fórmula 3 com a equipe West Surrey Racing acabou sendo a mais
difícil até então. Senna encontrou em Martin Brundle (depois seu rival na F1)
um adversário à sua altura e teve que por em prática toda sua habilidade e
contar com a sorte em alguns momentos. Mas no final Ayrton comemorou mais uma
vez o título após 12 vitórias (sendo 9 seguidas, um recorde só batido em 1995),
2 segundos lugares, 16 poles e 3 acidentes com Brundle em 21 corridas. Foi
nessa época que, devido às suas 9 vitórias em Silverstone em 3 anos, o
autódromo passou a ser chamado de ‘Silvastone’, em referência a seu sobrenome.
No final do ano, Senna participou do tradicional GP de Macau, vencendo a prova.
O ano de 1983 marcou o primeiro teste de Ayrton Senna com um carro de Fórmula
1. Senna foi convidado por Frank Williams para pilotar um de seus carros e, nas
81 voltas que deu no circuito de Donington (19 / 7 / 83), bateu o recorde da
pista ! Após as 3 temporadas de sucesso (48 vitórias em 72 provas, 67%), Ayrton
começou a receber propostas de alguma equipes de Fórmula 1, inclusive a
McLaren, que lhe daria muitas glórias anos mais tarde. Senna foi sondado,
também, pela Brabham e disse, tempos depois, que só não foi contratado pela
então campeã do mundo devido a um veto de Nélson Piquet. Surgiu aí a briga
entre os dois que durou até sua morte.
Ayrton
acabou assinando com a Toleman e estreou no GP Brasil em 25 / 3 / 84, largando
em 16°, mas, para sua frustração, abandonou logo no início. Seu primeiro ponto
veio na corrida seguinte, em Kyalami. O primeiro show de Senna na F1 aconteceu
a 3 de junho no GP de Mônaco, quando ele largou na 13ª posição e cruzou a linha
de chegada na primeira volta já em nono lugar, debaixo de muita chuva. Na
sétima volta estava em 7° e após 30 voltas alcançava a segunda posição.
Duas voltas
depois, quando se aproximava para ultrapassar o líder Alain Prost, o diretor da
prova Jackie Icxy encerrou a corrida, o que foi considerado na época uma ajuda
a Prost. Anos depois Senna diria que o melhor para ele foi a interrupção da
prova "pois, se a corrida continuasse, eu passaria por ele e poderia bater
cinco voltas depois. Assim tive mais publicidade do que se tivesse ganho."
Ayrton terminou sua primeira temporada em 9° lugar com 13 pontos. Um fato
interessante sobre esta corrida em Monte Carlo é que, quando a prova é
interrompida antes da metade das voltas previstas, cada piloto recebe apenas
metade dos pontos a que teria direito. Assim, Prost recebeu apenas 4,5 pontos
(na época a vitória valia 9 pontos). Caso a corrida tivesse as 79 voltas e
Prost terminasse em segundo (com Senna o ultrapassando), Alain marcaria 6
pontos, isto é, 1,5 a mais. Detalhe: neste ano ele perdeu o título para Niki
Lauda por apenas 0,5 ponto. Senna ganharia sua primeira corrida e Prost, ao
final do ano, seu primeiro título. Pela primeira vez (de muitas) Ayrton atrapalhava
os planos do francês.
Em 1985
Senna foi correr na equipe Lotus. No dia 21 / 4 ,no circuito do Estoril em
Portugal, Ayrton largava em sua primeira pole position na Fórmula 1 e, mais uma
vez debaixo de chuva, deu um show, obtendo a primeira das 41 vitórias de sua
carreira. Neste ano Senna conseguiria mais 5 poles e uma vitória (sob chuva) na
Bélgica. Após esta vitória, começou a ser chamado pela imprensa de "Rei da
Chuva".
No ano
seguinte, ainda na equipe do carro preto e dourado, Senna já caía nas graças da
torcida brasileira com o segundo lugar no grid e na corrida, fazendo dobradinha
com o vencedor da prova Nélson Piquet. Foram mais duas vitórias, cada uma com
sua particularidade. A primeira, na Espanha a 13 / 4 , Senna superou Mansell
por míseros 14 milésimos de segundo, a segunda menor diferença já registrada
até hoje. A segunda vitória da temporada veio em Detroit, a 22 / 6 . No dia
anterior o Brasil havia sido eliminado da Copa do México pela França. Em
segundo e terceiro chegaram os franceses Jacques Laffite e Alain Prost, o que
provocou em Senna um sentimento de vingança. Para mostrar seu orgulho de ser
brasileiro, Ayrton fez pela primeira vez a volta da vitória empunhando a
bandeira do Brasil, gesto que repetiria por mais 37 vezes em sua carreira.
Foram, neste ano, mais 8 poles.
O ano de
1987 prometia mais para Senna, já que a Lotus vinha com motor Honda e o novo
patrocínio da Camel. Mas os resultados decepcionaram. Foram duas vitórias e
apenas uma pole. Em 31 / 5 Senna venceu pela primeira das 6 vezes o GP de
Mônaco. Mal acostumado com tantas vitórias antes de chegar à Fórmula 1, quando
as máquinas eram praticamente iguais e só o talento prevalecia, Ayrton começava
a ficar insatisfeito com seus carros.
No final de
87 ele assinou contrato com a McLaren Honda, onde seria companheiro do então
bicampeão Alain Prost.
O sonho de
vencer o GP Brasil nunca esteve tão perto, mas Senna acabou desclassificado da
prova por ter trocado de carro após um acidente na largada. Após um início
difícil de temporada, Ayrton acabou fazendo valer sua maior determinação e
conquistou seu primeiro título mundial ao conseguir 8 vitórias e 13 pole
positions, um recorde até então. A conquista veio com a maior atuação de sua
carreira (segundo ele próprio, melhor até que no Brasil em 91), no GP do Japão em
30 / 10 .
Ayrton
largava na pole mas deixou seu carro morrer. Como a reta dos boxes fica em
descida no circuito de Suzuka, ele fez a McLaren pegar no tranco. Acabou
fazendo a primeira curva em 14° lugar, mas já passava em 8° ao final da
primeira volta. Na 16ª passagem já estava em 3°, numa recuperação
impressionante que mostrava o quando era importante para ele aquela vitória e o
título. Ao abrirem a 27° volta, Senna, mesmo sendo fechado, passou por Alain
Prost e assumiu a liderança, levando seu carro até a vitória para delírio dos
torcedores japoneses.
A dupla
Senna-Prost correria novamente pela McLaren em 89, mas este seria o pior ano
para Ayrton na Fórmula 1. Pior não no resultado (foi 2° no Mundial), mas na
briga com os cartolas, em especial o francês Jean-Marie Balestre. Senna fez 13
poles e conseguiu 6 vitórias, mas chegou às 2 últimas etapas precisando da
vitória.
Na penúltima
corrida Prost largou melhor mas Senna o alcançou na 47ª volta, na chicane antes
da reta dos boxes em Suzuka. Prost jogou sua McLaren em cima de Ayrton
provocando a batida. Mesmo assim, Senna voltou empurrado pelos fiscais,
completou a volta sem o aerofólio, parou nos boxes, ultrapassou Alessandro
Nannini no ponto onde Prost o fechara e venceu a prova, mas foi impedido pelo francês
Balestre de subir ao pódio. Senna havia sido desclassificado sob a alegação de
ter cortado a chicane por dentro (o que só poderia ocorrer se o carro estivesse
em posição perigosa). Ora, se um carro está parado num ponto onde a
desaceleração é de 305 para 80 km/h, como era o caso isto é uma situação de
perigo.
Balestre não
interpretou assim e preferiu desclassificá-lo. A vitória ficou para o segundo
colocado, Nannini, e o título para Prost. Na época, os computadores japoneses
utilizaram as imagens feitas pelo helicóptero e analisaram as 47 vezes que
Prost fez a curva da chicane. Na volta do acidente ele começou a virar 1 metro
antes do que fizera nas primeiras 46, numa clara demonstração de que fechara
Ayrton propositadamente. Senna ainda precisaria vencer a última corrida, mas
aquele ficou conhecido como o final de temporada mais vergonhoso da Fórmula 1.
No início de novembro de 1996, o francês Balestre confessou à imprensa que
interferiu no resultado daquela prova para ajudar seu compatriota Prost. Durante
o intervalo para a próxima temporada, Senna criticou duramente os dirigente da
F1 e foi forçado por Balestre a se desculpar publicamente para ter permissão
para correr em 1990. Após muitas brigas, Senna atendeu o cartola e conseguiu a
super-licença. Prost foi para a Ferrari e o companheiro de Ayrton passou a ser
o austríaco Gerhard Berger, que se transformou em seu melhor amigo durante a
carreira na F1.
A temporada
90 foi novamente marcada pelo domínio da dupla Senna-Prost. Juntos eles
venceram 11 das 16 provas do ano, mas, chegando às últimas 2 etapas, desta vez
era o francês que precisava das duas vitórias, mas Senna largaria na pole. O
que se passou à partir daí foi narrado em 1991 pelo próprio Senna: "Antes
do treino de classificação concordamos com as autoridades que a pole seria do
lado de fora (mais limpo, para dar vantagem ao pole).
Após o
treino, Balestre decidiu que a pole seria do lado dentro (sujo, onde o carro
patina) e eu me vi do lado errado na largada. Fiquei tão frustrado que prometia
a mim mesmo que, se perdesse o lugar depois da largada, tentaria pegar na
frente a primeira curva, independente do que isso resultasse. Eu iria com tudo
e Prost não faria a curva na minha frente, e foi isso que aconteceu, como
resultados das decisões estúpidas e ruins dos políticos"(...) "O ano
de 1989 foi inesquecível. Ainda não engoli aquilo.
Todos vocês
sabem que os cartolas decidiram contra mim e isto não foi justo. Eu disse a mim
mesmo: certo, você joga e tenta fazer o trabalho direito e depois é (palavrão)
por certas pessoas. Tudo bem, se amanhã Prost sair na minha frente, vou com
tudo na primeira curva e é melhor ele não tentar entrar, porque não vai
conseguir. E aconteceu. Eu gostaria que não houvesse acontecido. Ficamos os
dois fora da corrida e foi um final (palavrão) para o campeonato. Não foi bom
nem para mim e nem para a Fórmula 1. Foi o resultado de decisões erradas e
parciais das pessoas que as tomaram. Eu ganhei o campeonato . E daí? Foi um mau
exemplo para todos" (...) "Eu contribuí para aquilo, mas não foi
minha responsabilidade." Senna já era, a essa altura, bicampeão mundial,
tinha 26 vitórias (20 pela McLaren), 16 melhores voltas e 52 poles (46%, quase
1 a cada 2 provas). Jim Clark, na época detentor da segunda melhor marca, tinha
33.
Antes do
início da temporada 91, todos apostavam que o duelo seria novamente entre Senna
e Prost, especialmente depois dos promissores testes de inverno da Ferrari. Com
o passar das corridas, a grande rival de Ayrton foi a dupla da Williams,
Mansell e Patrese. O começo de Senna foi avassalador: 4 poles e 4 vitórias
incontestáveis nas primeiras 4 provas do ano. Em 24 / 3 , Ayrton conseguia,
finalmente realizar outro sonho: ganhar o GP Brasil. E de que maneira ele
realizou esse feito ! Senna largou na pole e foi perseguido por Mansell por
mais de 40 voltas até que o câmbio da Williams não resistiu e acabou com as
pretensões do inglês.
À partir
daí, foi Senna que começou a ter problemas de câmbio e viu a diferença para o
segundo colocado, Patrese, cair de 40 para apenas 2.3 segundos na última volta.
Na entrevista à imprensa, Senna explicou que ficou sem a 1ª e a 2ª marchas e,
algumas voltas mais tarde, não entrava mais nenhuma marcha, apenas a 6ª. Nas
curvas de baixa velocidade, Senna tinha que manter alta a rotação do motor para
não deixar o carro morrer. Isso exigiu de Senna um esforço muito grande para
segurar sua McLaren na pista molhada pela chuva que se iniciava. Ao final da
prova Ayrton teve espasmos musculares nos ombros e pescoço e não conseguiu nem
levar o carro de volta aos boxes. Mesmo que ele tivesse em sua perfeita
condição física, não conseguiria passar pela multidão que invadiu a pista para
comemorar a tão sonhada vitória de seu ídolo maior.
A torcida
fez plantão na porta da casa de Senna e só foi embora quando a polícia
convenceu Ayrton a subir no muro e exibir o troféu da vitória. À partir da
quarta corrida, as Williams transformaram em vitórias sua superioridade sobre a
McLaren. Graças às vitórias na Bélgica e na Hungria e ao azar de Mansell em
Portugal (quando um mecânico não apertou a porca do pneu da Williams e Nigel
foi atendido fora da área permitida nos boxes, sendo desclassificado de uma
prova que fatalmente venceria), Senna chegou à penúltima prova precisando
apenas que Mansell não vencesse uma das duas etapas restantes. A prova era
novamente em Suzuka e Senna, largando em segundo, deixou o pole Berger escapar
na frente enquanto segurava Mansell em 3°.
Seu
pensamento: quando (e se) Mansell me passar, Berger já estará longe. No início
da 10ª volta, Nigel pegou uma turbulência muito forte atrás do carro de Senna e
passou reto pela curva no final da reta dos boxes (desta vez sem acidentes).
Senna conquistava, assim, seu 3° (e, infelizmente, último) título mundial. Com
Mansell fora e Patrese muito atrás, começou o show da McLaren. Senna perseguiu
Berger até ultrapassá-lo, mas, como haviam combinado que quem largasse na
frente teria a preferência para vencer a corrida, abriu passagem para seu
companheiro (justamente na chicane onde fora fechado por Prost 2 anos antes)
vencer pela primeira vez na equipe de Ron Dennis. De quebra, Senna venceu a
última corrida na Austrália. A chuva era tão intensa que a prova foi
interrompida na 14ª volta, dando a metade dos pontos para os seis primeiros
colocados. Ayrton encerrava o ano com outro show sob chuva.
À partir da
temporada de 92, a McLaren entrou num período de declínio sem o motor Honda
(que foi trocado pelo Ford) que coincidiu com uma superioridade da Williams só
comparada à hegemonia da própria McLaren em 88. Com o melhor motor (Renault),
câmbio semi automático, suspensão computadorizada e o melhor chassis da F1, os
carros de Mansell e Patrese não tomaram conhecimento dos outros competidores e
o inglês acabou levando fácil (até que enfim) seu primeiro mundial. A Senna
restaram 3 vitórias e 1 pole. Na corrida mais emocionante da temporada, em
Mônaco, Mansell disparou na frente e Ayrton mantinha-se em segundo, quando o
inglês teve um pneu furado e foi obrigado a parar nos boxes. Senna saia do
túnel, viu pelo telão que Mansell estava parado e acelerou fundo para
aproveitar a chance. Faltavam 7 voltas para o final e Senna tinha mais de 7
segundos de vantagem. Duas voltas depois, Mansell colava atrás de Ayrton e
iniciava uma perseguição implacável que só terminou na linha de chegada.
Durante as 5 voltas finais Mansell tentou desesperadamente, mas não teve jeito.
Ayrton fechou-o por todos os lados e proporcionou um dos raros momentos de
emoção durante toda a temporada.
Em 1993, o
novo piloto da Williams, Alain Prost, vetou a entrada de Senna na equipe que
teve que se contentar e tentar novos milagres na McLaren. Para sorte de Ayrton,
Prost não tem o mesmo arrojo de Mansell, e, com uma diferença maior ainda que
no ano anterior, quase deixa escapar o título mais fácil de sua carreira. Senna
conseguiu se manter por algum tempo na liderança do campeonato, mas a
superioridade da equipe de Frank Williams era muito grande. Não fossem as
brilhantes apresentações de Senna, a temporada teria sido mais chata ainda do
que a de 92. Os grandes momentos do ano foram em Donington (quando Senna chegou
a estar 1 volta à frente do 2° colocado e parou 3 vezes a menos que Prost nos
boxes para trocar de pneus numa pista seca-molhada-seca-molhada), em
Silverstone, quando segurou Prost por várias voltas num circuito muito veloz,
em Mônaco (quando contou com a sorte e herdou a primeira posição após problemas
com Prost e Schumacher) e no Japão, onde venceu largando atrás de Prost.
Em 1993,
outra duas provas merecem destaque: o GP Brasil, onde Senna deu mais um show na
chuva, levando pela última vez a torcida paulista ao delírio em Interlagos,
proporcionando outra invasão da pista. Desta vez Senna voltou para os boxes
sentado na porta do safety car acenando para o público. A outra prova para ser
lembrada sempre foi a vitória de ponta a ponta na Austrália, em 7 de novembro.
Essa corrida marcou seu 41° triunfo na F1, foi sua última prova com o carro
vermelho e branco da McLaren e foi a última vez que o mundo viu seu orgulho de
ser brasileiro desfilando com a bandeira brasileira na volta da vitória. Sua
última volta da vitória.
Sobre a
temporada 1994 é difícil falar. Quem gosta de automobilismo, é apaixonado por
F1 e aprecia um piloto controlando uma máquina de 700 cavalos, não consegue
aceitar naturalmente o que aconteceu neste ano. Depois de muito tempo lutando
por uma vaga na equipe que lhe proporcionou o primeiro contato com a F1, Senna
finalmente assinou com Frank Williams para correr os 32 GPs de 94 e 95.
Abria-se a perspectiva de muitos (e praticamente imbatíveis) recordes e mais
dois títulos, igualando-se a Juan Manuel Fangio, seu ídolo maior, penta campeão
na década de 50.
Seu grande
rival seria o alemão Michael Schumacher na Benetton. A primeira prova, em SP,
foi muito disputada e terminou com a vitória de Schummy, após um dos raros
erros de Senna em sua carreira. Ele rodou sozinho ao se aproximar da entrada da
reta dos boxes. Na segunda etapa, em Aida, no Japão, Senna largou na pole, foi
ultrapassado por Schumacher, e acabou fora da prova após ser tocado pela
Ferrari de Nicola Larini. A terceira prova seria realizada em San Marino, no
Circuito Enzo e Dino Ferrari, onde Senna já obtivera 3 vitórias e 7 poles
seguidas (um recorde até hoje). Como de costume ele obteve a pole, mas o final
de semana ficaria marcado como um dos mais tristes da história dos esportes. Na
sexta feira o brasileiro Rubens Barrichello livrou-se da morte devido a uma
camada de pneus quando sua Jordan deslizou na entrada da chicane e decolou
sobre a zebra.
Como que por
milagre, Rubinho escapou apenas com o nariz quebrado e o braço machucado. A
primeira pessoa a visitá-lo no hospital foi Senna, que, barrado na porta, teve
que pular o muro de trás para vê-lo. No sábado, o piloto austríaco Roland
Ratzenberger perdeu o controle de sua Simtek (o aerofólio soltou-se) e bateu na
curva Villeneuve próximo dos 300 km/h.
Os médicos
tentaram salvá-lo, mas ele foi declarado morto horas depois no Hospital. Senna,
ao saber do acidente, ignorou as normas e foi ao local do acidente, reclamando
da falta de uma proteção (brita ou pneus). Repreendido pelos cartolas, Ayrton,
seu companheiro Damon Hill, e os pilotos da Benetton e da Sauber se retiraram
do treino em respeito a Ratzenberger.
No domingo,
Senna alinhava seu carro pela 65ª vez na pole position, mas um acidente
envolvendo J. J. Lehto e Pedro Lamy obrigou a entrada na pista do safety car. A
pista foi liberada na 5ª volta com Senna em 1° e Schumacher o perseguindo logo
atrás. Na sexta volta, disse depois o alemão, "Senna entrou escorregando
na curva Tamburello".
Com a
experiência e o reflexo que uma década de F1 proporcionam, Ayrton controlou a
Williams número 2 e continuou para percorrer os últimos 5040 metros de sua
vitoriosa carreira. Na 7ª volta Schumacher viu o carro de Senna deslizar
novamente no mesmo local, soltando faíscas devido ao contato com o asfalto. Desta
vez não havia o que fazer.
A barra de
direção quebrou e Senna, mesmo virando o volante e reduzindo rapidamente as
marchas, viu, impotente, o muro de concreto da Tamburello chegando sem uma
mísera caixa de brita ou uma proteção de pneus. Acabava aí o sonho de milhares
de fãs espalhados pelo mundo inteiro de assistir aos domingos os shows, as
manobras arrojadas, as ultrapassagens que beiravam o impossível, o domínio
perfeito da máquina sob sol ou sob chuva. Para nós, brasileiros, a perda foi
maior.
Ele não era
para nós apenas um grande piloto de F1. Era como que um herói, saído do Brasil
para dominar o mundo do automobilismo repleto de tecnologia e extremamente
competitivo. Nos vimos privados de ouvir a música tema de suas vitórias e, o
melhor de tudo, ver nossa bandeira agitada depois de mais uma vitória em São
Paulo, na Itália ou no Japão. Restou-nos, desde aquele inesquecível 1° de maio
de 1994, lembrarmos sua determinação e acreditarmos que nada é impossível.
Basta perseguirmos nossos sonhos com o máximo de empenho e acreditarmos que temos
capacidade para realizá-lo.
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2 Comentários
Sempre me emociono quando leio alguma coisa relacionada ao Ayrton. E essa matéria, com certeza é muito boa.
ResponderExcluirPoxa essa materia é muito boa, parabens!!!
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