Atlas da violência 2017 coloca cidade do Pará como primeira entre as cidades com mais de 100 mil habitantes no quesito homicídios e mortes violentas sem causas determinadas.
Por G1 PA
A cidade de Altamira, no sudeste do Pará, é o município mais violento do Brasil. A conclusão é dos pesquisadores do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), que divulgaram nesta segunda-feira (5) o Atlas da Violência 2017. O G1 entrou em contato com a Secretaria de Segurança Pública do Pará (Segup) e aguarda posicionamento sobre a pesquisa.
O estudo, feito em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, analisou dados coletados em 2015 para concluir que o município tem a maior taxa de homicídios e mortes violentas com causas indeterminadas dentre todas as cidades brasileiras com mais de 100 mil habitantes.
Com uma área de 159.533,255 quilômetros quadrados, Altamira é mais do que o maior município do Brasil: sua extensão supera o tamanho de 37 das 53 nações europeias – mas, ao contrário dos países desenvolvidos, a cidade paraense tem apenas 46% dos habitantes com ensino fundamental completo.
Além das particularidades geográficas, a cidade precisa lidar com as dificuldades da explosão populacional: incentivados por grandes projetos, como a construção da usina hidrelétrica Belo Monte, na vizinha Vitória do Xingu, Altamira viu sua população saltar de pouco mais de 77 mil habitantes no ano 2000 para os atuais 109.938 habitantes, segundo o censo realizado pelo IBGE em 2016.
Segundo os pesquisadores do IPEA, este desordenado crescimento impulsionou a violência. “A forma e a velocidade como o crescimento econômico afeta o território é outro aspecto relevante. Por exemplo, um crescimento rápido e desordenado das cidades (como aconteceu em Altamira, no rastro da construção da Usina de Belo Monte) pode ter sérias implicações sobre o nível de criminalidade local”, cita o estudo.
Algumas explicações para este aumento estão diretamente ligadas a concentração de renda. A pesquisa aponta que, caso boas oportunidades de emprego fiquem restritas a uma parcela da sociedade, a população marginalizada acaba sendo incentivada a entrar no mundo do crime.
Outra questão pontuada pelos pesquisadores é que a circulação de dinheiro na cidade também atrai coisas ruins, como o tráfico de drogas e outros mercados ilícitos, além de estimular a migração desordenada.
“A situação acima ocorre quando as transformações urbanas e sociais acontecem rapidamente e sem as devidas políticas públicas preventivas e de controle, não apenas no campo da segurança pública, mas também do ordenamento urbano e prevenção social, que envolve educação, assistência social, cultura e saúde”, explica a pesquisa.
Consequência previsível
O professor doutor Jaime Luiz Cunha de Souza, que publicou em 2016 o estudo “Grandes projetos na Amazônia: A hidrelétrica de Belo Monte e seus efeitos na segurança pública” pela Universidade Federal do Pará, diz que o acumento da violência em áreas onde existem grandes projetos é previsível por conta da falta de planejamento em segurança pública.
"Isto sempre ocorre toda vez que há um grande projeto. Os grandes projetos fazem planejamento para várias áreas, mas é mínimo o planejamento para segurança pública. Então fatalmente ocorrem esses aumentos da violência, como ocorreu em Tucuruí, por conta da usina, e em Parauapebas por conta da Vale", relembra.
"A questão é que quando a obra é implantada, isso parece uma nova chance de emprego para pessoas do Brasil inteiro, que vão para lá sem nada, apenas com a esperança de sobreviver. Após chegar ao local verificam que não existem as oportunidades que imaginavam, é um desespero", avalia.
"Para você ter uma ideia de quanto isso é grave, na fase de implantação de uma usina existe um afluxo de 70 a 100 mil pessoas para a fase de construção. Quando a usina está pronta, vão operar a usina cerca de duas mil pessoas. Aí você imagina de 30% dos imigrantes retornam para onde vieram, e o restante fica na cidade sem moradia, sem emprego, saúde e perspectiva alguma", afirma o pesquisador Jaime Luiz Cunha de Souza.
Para o pesquisador, a situação de abandono em que vivem essas pessoas é o combustível para o aumento da criminalidade. "Esse pessoal engrossa conflitos que já existem na área. Isso é totalmente previsível, todo grande projeto da Amazônia tem este mesmo problema. Existe um déficit que os planejadores não se deram conta, ou se dão conta não dão importância, entre o fluxo gigantesco de pessoas para a implantação do projeto, que é inevitável, e o fato de não ter como administrar as consequências disso com recursos exclusivos da prefeitura", conclui.