Destaque – A devoção a Nossa Senhora em Ourém teve personagens que ajudaram a
construir um dos mais atrativos círios do Pará.
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festividade do Círio em Ourém começou em 1963,
em louvor a Santo Antonio Maria Zaccaria. A procissão saía da Igreja Matriz,
construção iniciada em 1938 e concluída em 1939, graças aos esforços do Padre
Angelo Moretti, do Irmão Antonio Albério e do Sr. Albino, um dos mestres de
obra que se empenharam arduamente na concretização do templo, que contou com a participação
das famílias católicas da cidade.
A imagem
do Santo era carregada pelo povo em um andor. O maior incentivador da festa que
homenageava o padroeiro dos barnabitas foi o Padre Miguel Giambelli, que foi vigário
da paróquia e bispo da Diocese de Bragança, falecido em 2010. A imagem veio de
Belém e possivelmente foi confeccionada na Itália. Tem tamanho natural e está
na Iogreja Matriz, às proximidades do altar-mor. Ela foi recebida festivamente
pela população na localidade do Cachoeirinha, na margem do rio Guamá, próximo
ao Riacho, distante 8 quilômetros da cidade de Ourém e carregada até a Igreja
Matriz nos braços da população e dos religiosos, que orgulhosas prestavam
homenagem ao patrono e fundador da congregação barnabita.
Com o
passar do tempo, não se achou conveniente realizar um Círio em louvor a um
Santo, alheio à devoção mariana, diferente das procissões realizadas em outros
municípios do Pará. Então o Círio passou a referenciar Nossa Senhora do
Perpétuo Socorro, mantendo apenas a data, realizando-se no primeiro domingo de
julho, data mais próxima do dia de Santo Antonio Maria Zaccaria, em 05 de
julho.
Na época
do Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro não havia berlinda. O andor que
conduzia a imagem de Santo Antonio Maria Zaccaria continuou a ser utilizado com
a imagem de Nossa Senhora, conduzida nas procissões da Trasladação, do Círio e
do Recírio. O Padre Paulino Maria Brambilla, em 1965, foi o responsável pela
realização do primeiro Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, saindo de
uma Capelinha localizada no Bairro do Cruzeiro para a Igreja Matriz seguindo o mesmo
trajeto da procissão em louvor a Santo Antonio.
Na época
a participação popular era grande e as doações eram mais generosas. Os
agricultores entregavam donativos em dinheiro e muitas aves que eram leiloadas
durante a festa, os fazendeiros e grandes comerciantes doavam as melhores
cabeças de seus rebanhos, além disso, participavam de todas as romarias,
incluindo o círio e o recírio.
Como
incentivo para a participação ativa da população, o arraial era montado ao
redor da igreja durante festividade com brinquedos movidos por tração humana,
especialmente o carrossel com cavalinhos, os barquinhos e as cadeiras
voadoras, que alegravam as crianças e geravam alguns recursos
financeiros para a paróquia. Posteriormente passaram a ser confeccionados em
Bragança pela Diocese e eram montados em qualquer época do ano.
O culto à
Virgem de Nazaré no Pará, data do início do século XVIII. Um homem simples, de
nome Plácido. Ela seria natural da Vigia ou de Belém. E achado uma imagem de
Nossa Senhora, de acorsdo com os relatos de D. João Evangelista, quinto bispo
do Pará (com alguns trechos narrados por Antonio Genu, em 1926) e que se
encontram arquivados no Convento da Estrela, em Portugal, relatam
acontecimentos narrados pelo próprio Plácido[1].
Plácido
José de Souza, sobrinho de um dos primeiros capitães generais do Pará, Ayres de
Souza Chicorro, e filho do português Manuel Ayres de Souza, morava em um lugar
conhecido como Estrada do Maranhão, ou Estrada do Utinga (hoje bairro de
Nazaré), juntamente com sua esposa, dona Ana Maria de Jesus, igualmente paraense
de ascendência portuguesa: filha de Fernão Pinto da Gaia, natural do Alentejo,
e sobrinha de outro capitão general do Pará, Antonio Pinto da Gaia. As
terras que ocupavam foram doadas ao pai da esposa de Plácido em 1673, pelo tio
da mesma, quando era capitão general. No final de outubro de 1700 ele encontrou
a imagem desfigurada pelo tempo, sobre uma pedra lodosa, provavelmente
esquecida por algum peregrino em trânsito para o Maranhão ou escondida por
algum viajante que fora atacado por índios que frequentavam a região.
Após o
achado, a imagem foi conduzida para a barraca habitada por Plácido, que ficava
à beira da estrada, por onde passavam muitos viajantes, numa área próxima a
atual Cidade Velha. A imagem começou a ser visitada pelos moradores que iniciaram
a devoção e começaram a pagar promessas com “ceras e outras dádivas”, o que motivou
Plácido a procurar o bispo, demonstrando interesse em erigir um nicho adequado
para a Santa, uma vez que a devoção já se espalhava por toda a Belém.
O bispo
então orientou a comunidade a iniciar a construção de um local apropriado,
colocando-se à disposição para auxiliar no que fosse necessário, dispondo-se a
visitar o local no dia 2 de fevereiro de 1773.
Na visita
o bispo fez um sermão e colocou Belém sob o “manto protetor da Virgem de
Nazaré”, dispondo-se ainda a encaminhar a imagem a Portugal, onde seria
restaurada, tempo necessário para a construção do nicho com um altar
que serviria para a veneração da imagem.
O
governador da época, João Pereira Caldas, assumiu a responsabilidade de custear
as despesas necessárias para o traslado da imagem, que foi embarcada na charrua
D. Maria, ancorada no porto de Belém. Em seguida, D. João Evangelista se
deslocou ao local da construção para benzê-lo, incentivando os moradores a
iniciarem a construção da capela com madeiras toscas e palha de ubim e ubuçu.
No
dia 31 de agosto de 1774 aportava em Belém a galera “D. Pedro” conduzindo o
sargento Feliciano Teles de Menezes, trazendo a imagem totalmente restaurada. O
bispo e a população conduziram a imagem para a capela no dia 4 de outubro, com
a participação do governador, autoridades e outras pessoas. Plácido, com mais
de noventa anos, recebeu a imagem e o vigário capitular Geraldo José
de Abranches celebrou a missa, cujo sermão foi proferido pelo sacerdote
paraense José Monteiro de Noronha, vigário geral do rio Negro.
Ao
término da solenidade, o ouvidor geral, José Feijó de Mello e Albuquerque, na
ausência do provedor Fernão Carrilho (que se encontrava doente), leu o termo
através do qual o governo cedia 400 braças quadradas à margem meridional da
Estrada do Maranhão, à “gloriosa Virgem de Nossa Senhora de Nazaré do
Desterro”. O termo foi assinado pelos vereadores, capitão-mor, bispo, autoridades
e pelas pessoas presentes que sabiam ler e escrever.
O
monsenhor enfatizou em seu sermão a postura do povo do Belém, que em 1728,
quando uma epidemia de bexiga assolou a cidade, recorreu à casa de Plácido para
entoar cânticos e pedir a proteção contra a dolorosa doença, o mesmo
acontecendo em 1746, quando nova epidemia foi registrada, e em 1749, quando o
sarampo vitimou centenas de pessoas, fatos que lhe foram contados por seu pai,
Domingos Monteiro de Noronha, destacando a fé e a religiosidade e um povo
humilde e trabalhador, que em meio a tantas dificuldades, encontrava na
proteção da Virgem de Nazaré, a solução para as graves doenças.
O
bispo, entusiasmado com a demonstração de fé dos paraenses, solicitou à rainha
Dona Maria I e ao papa Pio VI, a autorização para a realização de uma festa
pública, segundo o ritual litúrgico, à Virgem de Nazaré, no local onde se
encontrava a capela, mas o bispo faleceu em 14 de maio de 1782 e não recebeu
resposta para a sua solicitação.
D. Frei
Caetano Brandão o substituiu e renovou o pedido em 1788. No dia 14 de setembro
de 1790 o papa permitia que se fizesse a festa pública em homenagem à Nossa
Senhora de Nazaré. Na ocasião Caetano Brandão não era mais o bispo e o
Acipreste Monteiro de Noronha, que ocupava o arcebispado até a chegada do novo
bispo, D. Manuel de Almeida Carvalho, concedeu a autorização.
Plácido
faleceu com 100 anos de idade, em 31 de maio de 1790, entregando antes ao
vereador da Câmara de Belém, Antonio Agostinho, a responsabilidade de assumir a
festividade nazarena. Este se mudou para a casa onde morava Plácido e assumiu
fielmente as atividades que lhe foram confiadas.
A 15 de
julho de 1790, assumia o governo da Província o capitão-de-fragata e cavaleiro
da Ordem de Malta, D. Francisco de Souza Coutinho, que acompanhou o crescimento
da devoção à Virgem de Nazaré, percebendo que a maioria da população de Belém
convergia para o local dos cultos.
Esse fato
motivou a formação de uma comissão responsável pelo erguimento de uma nova
ermida. Em 3 de julho de 1793 foi organizada uma feira geral nos fins de
setembro de cada ano, no local de veneração à Nossa Senhora de Nazaré,
publicando editais que confirmassem o seu desejo, e que dali em diante devesse
solenizar a festa do seu orago com novena, missa cantada e procissão; e que a
imagem da Santa, na véspera do primeiro dia da novena, fosse depositada na
capela do Palácio do Governo, a fim de que, no dia seguinte, fosse conduzida em
uma berlinda para a ermida, “procedida por devotos de ambos os sexos
concentrados em alas, uma de mulheres em seges e duas de homens a cavalo. D.
Francisco de Souza Coutinho se reuniria ao séqüito religioso, indo também a
cavalo, logo após a imagem”.
Na
noite anterior ao dia marcado, D. Francisco foi buscar a imagem e a conduziu à
capela do Palácio, na tarde do dia seguinte, 8 de setembro de 1793, realizou-se
o primeiro Círio de Nazaré. Era o início da maior procissão católica
do mundo, que se espalhou por vários cantos do planeta, permitiu que milhões de
pessoas demonstrassem a sua fé e consagrou mundialmente o nome do Pará e de sua
Padroeira.
CÍRIO DE NAZARÉ EM OURÉM
Em 1976
com a chegada do Padre Vitaliano Vari, que era músico e compositor, autor do
hino “Virgem de Nazaré”, entoado nas homenagens à Nossa
Senhora de Nazaré. Após consultar a comunidade e atendendo aquilo que já fazia
a maioria da população católica do Pará, achou conveniente que o Círio de Ourém
homenageasse Nossa Senhora de Nazaré, padroeira do povo paraense, o que foi
prontamente aceito.
Para não
coincidir com as homenagens a Santo Antonio Maria Zaccaria, a data de
realização da festividade passou para o terceiro domingo de julho, depois
passou para agosto. Depois da mudança no foco da festividade, foram
feitas alterações na programação e no trajeto da procissão, que deixou de sair
do Bairro do Cruzeiro, e, considerando o sacrifício como forma de participação
plena na festividade, o vigário escolheu o alto do morro localizado na entrada
da cidade, cerca de 20 metros acima do nível do rio Guamá, como novo local para
a chegada da Trasladação e saída do Círio de Nossa Senhora de Nazaré.
Na época
a Barraca das Festividades, local que em muitos lugares é identificado
como Barraca da Santa, ainda não havia sido construída, Ela
só foi erguida no final da década de 70. Por essa razão a comunidade se reunia
em frente à igreja e participava das programações profanas e litúrgicas.
Nesse
período houve o fortalecimento da liturgia e a participação maior dos
movimentos leigos na festividade, que passaram a se responsabilizar com mais
afinco das romarias que antecediam a festividades e de toda a programação, que
durava, como atualmente, uma semana, período que separa o Círio do Recírio.
Na
mudança do Círio de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro para Nossa Senhora de
Nazaré, não houve reação da comunidade porque era mantida a devoção mariana.
Houve protestos em relação à mudança de julho para agosto, que atendeu aos
apelos da Ir. Sancha Augusta de Souza e Silva, que protestava contra as
atitudes dos veranistas. Dizia ela: “eles participavam das procissões do
Círio e do Recírio com roupas inadequadas e indecentes, próprias apenas para o
banho e a exposição do corpo”.
A data
anterior coincidia com o final das férias escolares e o número de visitantes à
cidade é muito grande, a participação nas procissões de pessoas “de
fora” era infinitamente maior do que a presença de ouremenses,
moradores na cidade. A berlinda só foi adotada depois que o Círio passou a
reverenciar a Nossa Senhora de Nazaré. Ela foi construída em Bragança, por um
exímio carpinteiro e marceneiro chamado José Gumercindo, usando como modelo e
mesma que é utilizada em Belém.
No
princípio, a berlinda era carregada pelo povo como um andor. Como era muito
pesada e dificultava o andamento da procissão, a Irmã Sancha Augusta e o
vigário procuraram pelo Senhor Tatá, um bem sucedido empresário, que era dono
de serraria. Ele doou uma charrete de sua propriedade onde foi colocada a
berlinda.
O
arraial inicial, composto de inocentes brinquedos e “garapa com pão
doce”, merenda apetitosa que era exposta em “aquários” e vendida em copos
de vidro, totalmente diferentes dos canecos usados em casa, pelas famílias
mais humildes. A organização da festa mudou gradativamente e passaram a ser
montados bares e barracas que serviam comidas e bebidas durante o dia e à
noite.
Aquele
comportamento gerou a insatisfação de muitos que deixaram de frequentar o
arraial e levar os filhos para os brinquedos, que deixaram de ser manuais e
passaram a ser movidos por energia elétrica.
O Padre
Angelo Abeni iniciou a política de valorizar a parte religiosa com maior
ênfase, acatando a ação doutrinária com mais força e deixando de lado as ações
profanas, o que contribuiu para que, gradativamente, o arraial, que vendia
comidas e bebidas alcoólicas fosse perdendo o vigor até praticamente se
extinguir por volta de 1995, quando o Padre Luiz Maria era o vigário.
O Círio
de Nazaré sofreu certa decadência quando o Padre Angelo Abeni assumiu a
paróquia de Ourém. Depois da morte daquele religioso o Padre José Giambelli,
último barnabita a atuar no município. Depois vieram os padres diocesanos que
deram outra dimensão para a atuação religiosa nos municípios da Diocese,
orientados pelo bispo D. Eliseu Maria Corolli.
A
cavalaria foi introduzida nas procissões de Ourém durante as festividades de
São Benedito, copiando aquilo que acontecia no município de Bragança, onde os
pecuaristas e trabalhadores das fazendas pagam as suas promessas montados em
cavalos.
O senhor
Juarez Rodrigues esteve lá e achou interessante a idéia, que posteriormente foi
implantada em Ourém. Com o passar do tempo ela foi adotada também na procissão
do Círio, inicialmente com todos os cavaleiros alinhados à frente da procissão,
seguidos pelo Carro dos Anjos, Carro dos Milagres e pela Berlinda.
Atendendo
ao apelo dos organizadores da festa em 1996: Antonio Moreira, Jofrey Gemaque e
Ester Cunha, o vigário da época, Padre Luiz Maria, solicitou que os cavalos
passassem para o final da procissão, principalmente porque os dejetos
dos animais sujavam as ruas por onde passava a imagem de Nossa Senhora e
os romeiros, que passavam pelo constrangimento de pisar nas fezes e espalhar
pela procissão o odor bastante desagradável.
Em
2019 a cidade de Ourém comemora a 56ª versão do Círio de Nossa Senhora de
Nazaré. A festividade ensaia novas modificações implantadas pelo vigário, e
passa a se realizar no quarto domingo de agosto, com aprovação da comunidade. Ultimamente,
a imagem de Nossa Senhora de Nazaré visita as comunidades do interior do
município e congrega a população que se desloca da sede até as vilas e se
congrega em celebrações que integram as zonas rural e urbana.
56 anos
após o primeiro círio, a comunidade católica de Ourém se reuniu sob a
coordenação religiosa do vigário, padre Sidney, com grande liderança e
participação ativa nos eventos, com a participação do Poder Público,
especialmente a Prefeitura Municipal, na gestão do prefeito Waldemiro Fernandes
Coelho Jr – Junhão, que, a exemplo dos gestores anteriores, continua a tradição
de apoiar a maior festa religiosa do município, com homenagens e atuação na estrutura logística
da festividade,
Na noite
do dia 24 e agosto, uma quermesse realizada na Praça São João Paulo II, ao lado
da igreja matriz, reuniu milhares de pessoas que, após a Trasladação,
aplaudiram o show do Padre Sidney, participaram de leilões e se deliciaram com
as comidas típicas comercializadas antes do bingo de uma motocicleta e outros
premios.
No
domingo, dia 25 de agosto, um amanhecer ensolarado com alvorada festiva feita
por sons automotivos e pela Guamá Divulgação, com o espocar de muitos fogos, a
população católica de Ourém se deslocou para a Capela do bairro da Subestação,
de onde saiu a procissão do 56º Círio em louvor a Nossa Senhora, recenbendo
muitas homenagens e chegando à Igreja Matriz, onde foi celebrada uma missa
campal que representou o ápice de uma programação criteriosamente
organizada.
Por:
Jofrey Gemaque
Fotos:
Ouremnews/Jr Borges
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