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Turismo: Ourém e Capitão Poço: pelos caminhos das águas


Para quem deseja sombra e água fresca nesse verão, uma boa pedida é desbravar Ourém e Capitão Poço, na região nordeste do Pará. Famosos pela grande quantidade de igarapés e pela produção de frutas cítricas e mel, esses municípios avizinham-se como irmãos, dividindo vários atrativos turísticos e econômicos, mas guardam características distintas.
Três horas de viagem separam Belém de Ourém. O percurso é de 182 quilômetros. Em dias como esses, de verão, o visitante é presenteado com o brilho do sol sobre o rio Guamá, que desliza, majestoso, contornando a sede da cidade. Ourém foi fundada em 1727, pelo desbravador português Luiz de Moura. E tudo se deu quando Moura foi impedido de continuar a subir o rio: os pedrais e cachoeiras não permitiam que as caravelas seguissem seu rumo. O encontro com belas quedas d'água e corredeiras foi o que propiciou o surgimento do vilarejo de Nossa Senhora da Conceição de Ourém - que teve seu nome simplificado no ano de 1899.
Caminhos das águas - A cachoeira que deteve Moura, fazendo-o tirar as botas e colocar os pés nas águas, se constitui em uma espécie de pedral que permite aos pescadores locais “caminharem nas águas” com uma desenvoltura invejável. Exatamente como faz seu João Maria que, equilibrado entre águas e pedras, e com a intimidade de quem passou a vida fazendo isso, joga tranquilamente a sua tarrafa.
Quem não está apto a essas aventuras, porém, pode dar-se pelo menos o prazer de mergulhar nas águas de cor escura que o rio Guamá ganha na região. Nessa área, o rio também formou uma pequena praia, bem na frente da cidade.
Tia Loura e Cai N'água - O município de Ourém é famoso pela enorme quantidade de igarapés. Os moradores contam que são mais de 60. A maioria corre em áreas particulares, mas alguns são abertos a visitantes, como é o caso do  igarapé da Tia Loura - um paraíso em meio à mata, com árvores que servem de trampolins para saltos.
O balneário chama atenção pela água azulada e fundo branqueado pelos seixos abundantes no solo da região. Já à primeira vista se entende porque esse é sempre o lugar indicado por qualquer pessoa que conhece os encantos da região.
Com o igarapé ao fundo, Luciana Espírito Santo tirou o dia para servir de guia para familiares e amigos. E aproveita a tranquilidade do lugar - que na opinião dela é o melhor recanto da cidade. “Todos os igarapés de Ourém são bonitos, mas esse é especial”, garante a empresária, que recebeu o aval da amiga Silvana Savedra. É a primeira vez que Silvana visita o famoso igarapé. “Aqui tem água cristalina, bom banho e comida maravilhosa”, atesta a visitante.
Com água escura e não menos gelada, o igarapé Cai N’água também tem seus encantos. E atrai, principalmente, os moradores da região. O balneário Fazenda Igarapé da Pedras tem a infraestrutura de um hotel fazenda. Muito além do banho, alimentação e hospedagem, oferece passeios de cavalo e atividades aquáticas em uma estrutura totalmente planejada para garantir uma experiência positiva a quem visita o lugar.
O professor Rinaldo Barral aproveitou as férias com a esposa Terezinha Carvalho e o filho Marcos Vinicius para visitar o espaço. “A gente procura descansar a mente e ter mais contato com a natureza. É muito mais interessante vir pra cá do que ir pra Salinas ou Mosqueiro, que tem muita procura nesse período”, avaliou.
Manjar ribeirinho - Não muito longe dali, se encontra um balneário que tem nome de peixe. O Aracu preza pela rusticidade para atrair os veranistas. O cheiro de comida caseira é um convite a quem gosta de cardápios bons e bem servidos. Não bastasse isso, o ambiente ainda é privilegiado. A refeição pode ser feita sobre o rio, que tem o mesmo nome do lugar. Nos quiosques-palafitas, se pode comer com os pés dentro d’água, se for da vontade do freguês.
No Aracu são os próprios proprietários que se encarregam da cozinha e do atendimento. É lá que dona Maria Lúcia de Assunção e seu Antônio de Assunção residem e tiram o sustento da família há 10 anos. Diante das panelas, cuidadosamente areadas e enfileiradas na parede de madeira, pintada de amarelo, dona Lúcia lista orgulhosa as gostosuras que saem da cozinha. 
“O prato mais pedido é o aracu assado. Mas a gente também tem dourada frita, galinha caipira, porco guisado”, conta dona Lúcia, enquanto entrega uma bandeja cuidadosamente arrumada ao marido e pede que sirva os clientes, que aguardam o almoço de molho no rio.
Especialidade da casa - Quase em frente ao balneário Aracu, no quilômetro seis da rodovia Ourém-Conceição, encontra-se a comunidade Furo Novo. E lá está o Peixe do Seu Manoel Pedro, onde dez tanques abrigam tilápias, tambaquis, surubins, tucunarés e aracus - só pra citar alguns dos diversos peixes criados para a venda.
Outros seis pirarucus nadam tranquilos, mas são crias da casa, estão lá apenas para serem contemplados pelos visitantes, que podem alimentá-los e também se banhar no pequeno igarapé que corre no fundo da propriedade. O divertimento é garantido para crianças e adultos.
O técnico agrícola Francisco Rodrigues, responsável pela manutenção do criatório, explica que o visitante também pode consumir o peixe no próprio local. “É fresquinho e vem acompanhado de baião, farofa e vinagrete. Mas o que o povo gosta mesmo é de comer com farinha baguda e pimenta”, conta Francisco.
Porto sobre o Guamá - Outro bom lugar a ser visitado é a Vila do Tupinambá, que abrigava o antigo porto de Ourém. No vilarejo de casas coloridas e gente acolhedora, o rio Guamá é o personagem principal. Do alto dos seus 73 anos, dona Benedita Correia sentencia que o rio é a alma do povo ouremense. “Ele é tudo, desde o sustento até a nossa diversão”, garante a moradora, que não troca o vilarejo por nenhum lugar.
E se em Ourém o turista é sutilmente convidado a interagir com a natureza pródiga em belos recantos, a cidade também parece conservar seus igarapés como quem preserva uma parte da própria arquitetura dos seus velhos casarios. Sob a proteção de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, guardada com esmero na igreja construída na década de 1930 pelos padres barnabitas, em estilo gótico, Ourém segue como um destino de quem aprecia as coisas simples da vida.
Uma prova disso está a 19 quilômetros da sede municipal. É lá que corre o igarapé do Toba, um lugar encantador, de águas límpidas e geladas, que mais parece um aquário, tamanha a transparência e quantidade de peixes que, sem cerimônia, circulam entre os banhistas. Os macacos pregos mantêm a mesma convivência pacífica com os visitantes e costumam se aproximar para observar o movimento pela vegetação que margeia o rio. A nascente fica a apenas dois quilômetros e meio de distância.
Foi essa tranquilidade que fez Rosangela Leite e o marido Raulan Ribeiro trocarem a vida na cidade grande por um quintal com igarapé e animais silvestres. Até um macaco guariba faz morada por lá, revelam. “Eu sempre dou banana, que é uma forma de fazer com que ele se aproxime. Mas acho que ele deve andar meio chateado, porque faz tempo que não ofereço esse mimo”, brinca Rosângela.
Tradição musical - Nem só de rios e igarapés vive o município de Ourém. O folclore local dá um charme ainda mais especial a essa cidade, que valoriza a cultura e procura manter viva as manifestações culturais do boi-bumbá e dos cordões de pássaros.
A música tem lugar especial no Festival da Canção, que esse ano teve a sua 32ª edição. Um número que é um feito alcançado em poucos lugares do País, analisa, orgulhoso, o ativista cultural Arlindo Matos. Ele credita o sucesso e a longevidade do festival ao fato de não ser um mega evento. “Nunca foi um evento para atrair multidões, mas, sim, aquele público que gosta de música de qualidade. Isso faz com que o festival perdure até hoje, com muito sucesso.”
Arlindo inaugurou, em março deste ano, um pequeno museu com objetos e informações de Ourém. Lá, entre outras peças, está um contrabaixo que foi utilizado no primeiro Festival da Canção, realizado em 1983. Foi Arlindo quem também criou, em 2008, a Fundação Cultural de Artes Esportes Mundico e Manôla (Funcartemm) - para agregar, desenvolver e difundir a cultura local e a paraense de forma geral.
O movimento cultural de Ourém atrai gente de tudo quanto é lugar. E incentivou o ativista a construir uma hospedaria para abrigar os participantes dos eventos. No tempo ocioso, a hospedagem é disponibilizada ao turista que quer encontrar um ambiente mais rústico, música selecionada e, claro, um igarapé pra chamar de seu.
Doce vida - E se, na hora de se despedir, o visitante de Ourém pensar em levar uma doce lembrança, além das fotos e das experiências vividas, a pedida é o mel - que já é produzido no local em escala comercial e escoado para diversas cidades, inclusive em outros estados.  
A fábrica da Ouremmel fica bem no centro da cidade e produz cerca de 20 produtos diferentes, do mel puro aos fitoterápicos, incluindo as ceras depilatórias. O proprietário da fábrica, Raimundo Santana, conta que a região é propícia para a produção de mel, pois tem terrenos de capoeira e árvores de frutas cítricas. Isso contribui para a geração de um produto de qualidade, ensina.
“Nós temos mil colméias e cada uma produz cerca de 30 quilos. Então o nosso produto é feito e beneficiado aqui mesmo, com toda estrutura necessária. Me sinto muito orgulhoso de levar o nome da nossa cidade para fora”, orgulha-se Raimundo Santana. O mel produzido na fábrica já tem registro federal e pode ser comercializado em todo território nacional. Agora a empresa busca o registro para a linha de cosméticos.
A certificação de produtos desenvolvidos em território paraense passa, indiretamente, pelo trabalho de fiscalização desenvolvido pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado Pará (Adepará), que é responsável por fiscalizar a matéria-prima e a manipulação de produtos de origem animal e vegetal.
“A agência tem o papel de fiscalizar e atestar a qualidade, garantindo ao consumidor que determinado produto conserva a matriz da matéria-prima e é manipulado de forma correta”, explica Saulo Reis, agente fiscal agropecuário da Adepará. O trabalho da Adepará contribui para que os produtores sigam as normas necessárias para a certificação. Todos saem ganhando, do produtor ao consumidor.
Ouro doce - Não é difícil para o visitante mais atento da região constatar que são dois os rios que ligam Ourém a outro município vizinho. Além da vitalidade do rio Guamá, essa fraterna aliança é costurada também pelos caudalosos veios de mel que também jorram da produção apícola de Capitão Poço.

“É um mel tipo exportação”, atesta o apicultor Márcio Andre Carlos, que possui um apiário com 250 colméias. Lá, são produzidas cerca de 10 toneladas de mel por ano - uma riqueza que hoje já alcança mercados internacionais, devido as suas propriedades naturais. “Nosso mel é praticamente orgânico, porque as plantações de laranja, tangerina e limão, além da mata natural, onde as colméias são polinizadas, praticamente não têm incidência de agrotóxicos. Então o nosso mel não sofre esse tipo de interferência”, garante.
Águas do pensamento - O nome Capitão Poço vem de uma homenagem da cidade ao Capitão Possolo, um desbravador que integrou a primeira caravana que aportou por lá, em junho de 1955. E o município também guarda igarapés de encher os olhos. O do Pensamento corre solto no quintal da casa da dona Domingas Farias - que não se importa de dividir seu paraíso particular com os visitantes.
Na Vila de Igarapé-Açu, localizada a 24 quilômetros da sede de Capitão Poço, essa mesma experiência é compartilhada por várias famílias. O rio, com o mesmo nome da vila, banha os quintais de quase todas as casas do lugarejo onde estão cerca de 500 moradias.
Na tranquilidade do vilarejo, a diversão das crianças é saltar da ponte e dos turistas é banham-se no rio a perder de vista. Os moradores, como a dona-de-casa Regiane Teles, dividem o privilégio de ter qualidade de vida e, diferente de muitos que tem que buscar, por vezes muito longe, um recanto para relaxar ou aproveitar as férias, não precisar nem sair de casa para encontrar tudo isso. “A gente fica feliz é com a visita dos parentes que moram fora. Mas pra quê tirar férias em outro lugar, se aqui já temos tudo?”, indaga.
Comparando a estrutura da Vila de Igarapé-Açu com o balneário Cachoeira, fica claro que o município tem atrativo para todos os gostos. O Parque Hotel Fazenda Cachoeira – Balneário Recanto das Lendas surgiu a partir de uma queda d'água existente no local. Construiu-se ali um empreendimento que soma hotelaria, parque aquático e atrativos naturais.
O espaço abriga 76 apartamentos estrategicamente instalados para terem vista privilegiada, além de piscina de água natural, com tobogãs e parque infantil exclusivo para os pequenos. E além da bela cachoeira com natureza preservada, o visitante tem acesso a restaurantes e uma ampla área de estacionamento.
O casal Daniel Alves e Josélia Ferreira, saiu da cidade de Santa Luzia do Tide, no Maranhão, para levar os filhos Josiel e Danielle para passar uns dias no parque. “Na nossa cidade não tem uma diversão como essa. Aqui tem tudo no mesmo lugar. Achei muito bom”, destaca Daniel, enquanto Josélia já faz planos para voltar. “É espaçoso, aconchegante, bom para crianças. Quero vir mais vezes”.
Cabeça fria - O igarapé Geladeira é destino obrigatório pra quem passa pelo município. A água clarinha e azulada incentiva o banhista a ficar horas de ‘bubuia’, sem ligar para os ponteiros do relógio.
E o tempo parece mesmo não passar diante de um cenário que é puro relaxamento. Em poucos minutos de prosa com seu Antônio dos Reis, proprietário do balneário, o veranista pode pensar que o igarapé Geladeira tem um “quê” de fonte da juventude. Com 72 anos, aparentando ter uns dez a menos, seu Antônio confidencia: apesar de ter um bom banheiro em casa, só toma banho no igarapé. “Se tomei banho no meu banheiro por três vezes, foi muito. Banho de chuveiro não mata o calor da gente”, argumenta.

Reserva
 - O que pouca gente sabe é parte do município de Capitão Poço é território indígena Tembé, onde os turistas são bem-vindos, mas desde que marquem a visita com antecedência. Um dos acessos às aldeias é pela PA-253. A viagem leva em média uma hora de estrada.
A distância compensa: a paisagem do trajeto é exuberante e se alterna constantemente, entre áreas altas e as terras baixas de um vale que revela uma paisagem pouco comum nessa região do Pará.

O rio Guamá, sempre ele, também se apresenta de forma singular por essas bandas. O percurso é pontuado ainda pela paisagem rural de vilarejos e fazendas, cujas porteiras precisam ser transpostas para dar acesso à aldeia-sede dos Tembé do Guamá.
O cacique Piná Tembé, da aldeia Ituaçu, é quem faz a reserva dos visitantes. E é também quem apresenta a cultura do seu povo, que sobrevive mesmo ao aumento da invasão madeireira e da degradação ambiental.
“A cultura indígena, para se manter viva, precisa do meio ambiente naturalmente conservado. É por isso que os indígenas necessitam de território, e não de terra. Porque a natureza é fundamental para nossa manutenção de vida”, explica Piná. E alerta: manifestações importantes, como a Festa da Moça, já correm o risco de desaparecer. Isso porque o pássaro Mutum, componente fundamental desse ritual, está sendo encontrado cada vez mais raramente na mata.
Mesmo com as dificuldades para adquirir matéria-prima, Kuza Tembé exibe o resultado do seu trabalho e de outras mulheres da tribo: são brincos, colares, pulseiras, cocares, enfeites de braço e de cabelo, todos produzidos com sementes, penas e miçangas.
Cuias desenhadas e grafismo em palhas também fazem parte do artesanato tradicional. “A gente luta para manter as nossas tradições. Tanto artesanal como da língua tupi guarani”, conta o professor Kuza. Ele é professor bilíngue na escola das aldeias Tembé. Nelas, os pequenos índios são alfabetizados em português e na língua materna. Esse projeto, que é desenvolvido e acampado pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc), representa mais um esforço de resgate cultural para os índios de Capitão Poço.
Como chegar:
BR-316 e PA-124 ou BR-010
Passagens: 
Ourém: média de R$ 27, de ônibus, no Terminal Rodoviário de Belém
Capitão Poço: média de R$ 30, de ônibus, no Terminal Rodoviário de Belém
Serviços:
Igarapés: Alguns, por serem balneários particulares, cobram taxa de entrada. O custo médio é de R$ 3 por pessoa.
Parque Hotel Fazenda Cachoeira: para visitantes não hospedados, o ingresso custa R$ 30 por pessoa. Crianças com menos de um metro de estatura não pagam.
Aldeia indígena Tembé: Para visitar a aldeia é necessário agendar com antecedência. Não é cobrada taxa de entrada, mas os visitantes devem obedecer as orientação e cumprir o horário. Contato: (91) 99119-8414, a tratar com Piná Tembé.
Onde ficar:
Há várias opções de hospedagem nos dois municípios. As diárias variam entre R$ 70 e R$ 300 o quarto (para duas pessoas).
Alimentação
Há várias opções de restaurantes e lanchonetes. Os pratos variam de R$ 12 (PF) a R$ 90 (para duas ou três pessoas).
Por Dani Filgueiras

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